O número de crianças com alergia alimentar está aumentando. Essa é a constatação não apenas dos médicos brasileiros. Um estudo do Centro de Prevenção e Controle de Doenças dos Estados Unidos mostrou que nos últimos 10 anos aumentou em 18% o número de crianças e adolescentes até 18 anos com algum tipo de alergia a alimentos. Os dados mostram que quatro em cada 100 crianças apresentam reação alérgica.
Para Luiz Antonio Bernd, alergista e diretor científico da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, o uso precoce de antibióticos, a falta de contato com a natureza e a estímulos microbianos fazem com que as crianças que moram em áreas urbanas sejam mais suscetíveis a sofrerem do problema do que aquelas que moram em zonas rurais. “Essas se expõem precocemente a uma série de substâncias que estimulam a sua imunidade”, diz.
A alergia é uma resposta anormal do sistema imunológico da criança. Ou seja, o organismo cria um anticorpo contra uma determinada proteína (“recebida” por ele como uma substância estranha). Em crianças menores, leite de vaca, clara de ovo, soja, trigo e peixe são os principais vilões à medida que passam a fazer parte do cardápio alimentar. Entre os sinais mais comuns de que algo não vai bem estão dor abdominal, urticária e manifestações respiratórias (como asma, rinite e falta de ar).
A genética também é responsável pela sensibilização, que, mesmo mais comum em crianças, pode surgir em qualquer fase da vida. “Se a criança se torna alérgica por volta dos 6, 7 meses, há uma chance enorme de ela não ter essa reação na vida adulta”, diz
Luiz Antonio. Isso porque o intestino amadurece e passa a “quebrar” as proteínas em partículas menores, o que antes não conseguia e provocava a sensibilização.
Para isso é preciso que a alergia seja confirmada logo cedo, e a criança faça a dieta com exclusão imediata do que causa a reação. Mas isso não é tão simples assim. Se a alergia for ao leite, por exemplo, há uma série de derivados que ela também não pode comer, como bolachas e iogurtes. É preciso ainda que a família seja parceira nesse momento. “Ela tem que assumir o papel de proteção, e não comer nada que a criança não possa ingerir perto dela”, diz Luiz Antonio.
Os rótulos dos produtos não podem passar despercebidos. Há sinônimos para uma mesma substância. Soro, coalho, manteiga, por exemplo, têm proteína do leite.
Diagnóstico preciso
Um dos principais assuntos discutidos no 35o Congresso Brasileiro de Alergia e Imunopatologia,foi o diagnóstico correto. “Há crianças (e famílias) com dieta de exclusão de alimentos sem comprovação de que são alérgicas”, diz Luiz Antonio, presidente do Congresso. Muitas vezes as crianças estão passando por uma restrição alimentar sem necessidade.
Segundo o especialista, é cada vez mais comum a reintrodução de alimentos a que a criança apresenta reação. Mas só se eles forem realmente essenciais para o seu desenvolvimento. E, ainda assim, esse processo só pode ser realizado com orientação médica, jamais como decisão dos pais.
Intolerância alimentar
Há muita confusão em torno de alergia e intolerância. Enquanto a alergia envolve o sistema imunológico da criança, a segunda é a falta de uma enzima necessária para digerir determinados alimentos. O sintoma mais freqüente é a diarréia.
Diferente da alergia, quando a criança tem intolerância é possível que ela não tenha problemas ao consumir pequenas quantidades do que provoca a reação. Por isso, em alguns casos, não é preciso a exclusão completa daquele alimento de sua dieta.
De olho nos rótulos!
Alguns alimentos podem receber outros nomes, dificultando sua identificação. O único com lei específica é o glúten. Saiba como os alimentos mais alergênicos podem ser apresentados no rótulo das embalagens
Soja
Molhos e condimentos industrializados, como shoyu, queijo tofu, bolo e tortas integrais.
Leite
Lactose, caseína, caseinato, proteína do soro, betalactoglobulina, alfalactalbumina.
Ovo
Albumina, ovomucóide, ovoalbumina e lisozima.
Trigo
Tudo que tiver trigo (farinha, farelo, gérmen).
Outros, como amendoim e nozes, também estão na receita de diversos produtos industrializados, como pastas, chocolates, biscoitos e cereais.
FONTE: Revista Crescer